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PODCAST UDC #4 Mudança Climática, agricultura e o café: Identificação dos rumos da pesquisa.

Podcast Universidade do café Brasil -Uma nova forma de comunicar nossas pesquisas

Olá.  Apresentamos a pesquisa A NOVA ASSISTÊNCIA TÉCNICA AGRICOLA, Trabalho realizado em 2019.

Essa pesquisa foi motivada pelas transformações pelas quais passam os agronegócios, impactando diretamente a produção agropecuária. Essas transformações, de cunho tecnológico, têm relação com o avanço da tecnologia informacional (TI) no campo, induzida pelo aparecimento em todo o mundo de start-ups ligadas ao tema dos agronegócios.

Ficamos inquietos e nossas perguntas eram como avaliaríamos os diferentes sistemas de extensão e AT existentes considerando os padrões de evolução e as relações entre eles no sistema agroindustrial, especialmente com produtores rurais.

Destacamos então três objetivos principais:

  • * Provocar um debate a respeito da necessidade de sistemas públicos e privados de assistência técnica e extensão agrícola, identificando as instituições que balizam o funcionamento dos mercados de insumos, dadas as dimensões da agricultura brasileira.
  • * Verificar as demandas das várias agriculturas e produtores heterogêneos, que pedem sistemas tecnológicos específicos para suas necessidades.
  • * Recolocar o tema da assistência técnica agrícola no quadro da evolução de tecnologias disruptivas que alteram as relações de produção na agricultura.

Há uma corrida em direção às novas tecnologias e uma ânsia represada dos produtores em obtê-las. De outro lado, o sistema privado de grandes empresas de insumos acena aos produtores com a introdução dessas novas tecnologias procurando fidelizá-los aos seus produtos e oferecendo como contrapartida tecnologia informacional de controle e gestão de suas atividades.

O sistema público de extensão rural e as cooperativas têm procurado servir de tradutores e intérpretes da real valia dessas tecnologias, em paralelo a esse momento de euforia tecnológica.

Essa função de tutoria é fundamental para os produtores, principalmente aqueles com menor escala de produção, que podem recorrer a esses agentes para auxiliá-los em escolhas de novas tecnologias, e interpretar as tendências e mudanças.

Dada a carência de políticas públicas que cuidem do tema há uma necessidade premente de assistência técnica e extensão rural. Esse assunto ficou no limbo nos últimos dez anos em face da desatenção do Estado.

Chegou-se a supor que os produtores não necessitassem mais de ATER, pois supririam suas necessidades com entidades privadas e consultores autônomos.

A discrepância entre médias de produção entre regiões, categorias de produtores e tecnologias adotadas é outra das razões da necessidade de ATEr.

Há também a desigualdade em relação ao acesso a tecnologias. Um dado a ser destacado na pesquisa foi a constatação que, de acordo com o censo de 2017, apenas dez por cento das propriedades geram oitenta e seis por cento do valor total da produção agropecuária.

Com esse desequilíbrio de acesso à tecnologia e ao crédito, a transferência de tecnologia de agricultura de precisão ainda não é uma realidade para a maioria dos produtores.

A pesquisa identificou pouca familiaridade dos extensionistas oficiais e dos produtores sobre tecnologias que reduzem custos.

Conclui-se que todos os produtores necessitam de ATER, tanto o produtor tecnificado visando a nova agricultura 4.0 e 5.0, quanto os produtores de subsistência visando incorporar renda e melhorar as condições de vida das famílias.

3 Conclusões e desdobramentos atuais

Em função da heterogeneidade no setor agrícola Brasileiro, cada modalidade de produção, de produtor e de região necessita atenção especial.

As Universidades têm um potencial inexplorado nas funções de ATER e poderiam, por meio de programas piloto, baseados em modelos inovadores e adequados às tecnologias emergentes, atender uma gama variada de demandas.

Há um potencial para integração de modelos de ATER públicos e privados.

Necessitam-se de programas de investimento em tecnologias de comunicação digital com foco em ATER, para tornar mais eficiente e abrangente o atendimento de demandas tão diversificadas. Para isso o mapeamento de ações focalizando agricultura 4.0 e além seria importante.

As proposições da pesquisa foram:

1- Protocolos de ações orientativas para os serviços de ATER que considerassem a tipificação da agricultura local

2- Repensar a ATER: um modelo-piloto incorporando a ação das universidades, instituições de pesquisa, cooperativas e corporações privadas

3- Articulação das parcerias entre os diversos modelos de ATER. Pública-Órgãos e Universidades, Cooperativas, indústria de alimentos e insumos, consultores independentes.

4- Ações coletivas a partir de grupos existentes-Educampo, Ater coletiva, CREAs

5- Conectividade urgente no campo.

6- Investimentos em tecnologias de comunicação digital e ações com foco na agricultura 4.0

Após recentes consultas a especialistas em ATER, não houve grandes modificações entre 2019 e 2021 relativamente ao elenco de proposições acima.

Aparentemente o processo de descontinuação das Casas de Agricultura no Estado de São Paulo foi paralisado e as modificações do sistema de ATER público, tomará um outro rumo. Porém continua no rol das prioridades a reorganização do sistema por meio de eixos estruturantes e definição de prioridades.

Em Minas Gerais houve recentemente um concurso para contratação de 200 técnicos agrícolas para a Emater MG e há a previsão para novas contratações, o que enseja boas novas. Há uma parceria entre Emater-MG com a Embrapa para desenvolvimento de técnicas de agricultura de precisão voltadas para agricultura familiar.

O atendimento ao produtor começa a ser feito com novas ferramentas (para aqueles que estão na rede internet) em ambos os estados. É tempo de dedicar atenção à assistência técnica e extensão rural pelas várias instâncias de poder.

À guisa de conclusões sugerimos a preparação de modelos de ATER e aplicação de ações piloto em ambientes diversos para validação e definição do modelo mais adequado. O modelo antigo possui sim deficiências e carece de modernização, mas sua extinção (ou morte por inanição) é extremamente prejudicial aos agricultores que precisam de Assistência técnica e extensão rural pública de qualidade.

A pesquisa completa foi publicada no Volume 10 dos Cadernos da Universidade do Café está disponível para download na página: http://universidadedocafe.com/